terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Mico na imigração francesa!


No meu último dia em Londres, depois de 5 meses na Europa, resolvi, juntamente com mais 3 amigas, de que era hora de dar uma pausa na degustação das culinárias nativas e finalmente se render a uma boa comida brasileira.

Estávamos dispostas a pagar algumas libras só pra relembrarmos o gostinho do arroz, do feijão, da picanha, da farofa, da mandioquinha, do brigadeiro, do suco de acerola...Hummmmm! Assim, saímos em peregrinação pela cidade.

Encontramos, na alternativa Camden Town, um aconchegante restaurante mineiro. Sentamos, fizemos o pedido (aliás, fazia muito tempo que eu não era tão bem atendida) e ficamos ali esperando o tão cobiçado alimento. Estava tudo ótimo! Um verdadeiro orgasmo gastronômico!

Pedimos, a propósito, mais do que o suficiente. As quatro já estavam mais do que satisfeitas e ainda havia MUITA comida. Foi quando o garçon propôs: "Por que vocês não embrulham para a viagem?"

Estávamos pagando muito caro e a comida estava tão deliciosa. Além disso, havia o necessário para as 4 jantarem mais tarde. Por que não? Aceitamos!

Ele fez um marmitex e nos entregou. Por estar com a bolsa maior e menos cheia, fui eleita por unânimidade para carregar o tal "embrulho". Arrumei, com muito esforço, um espaço na bolsa. Depois fomos aproveitar os últimos instantes que nos restava da encantadora capital inglesa.

Andamos a tarde toda. O horário do meu ônibus de volta à Holanda já se aproximava (sim, fui e voltei de ônibus, mas este episódio merece um post a parte). Comprei um sanduíche pra comer na viagem e nem me lembrei de que a tal marmita ainda estava na bolsa.

O ônibus chegou até o porto e antes de entrar no navio para podermos atravessar o canal da mancha, o motorista pediu a todos os passageiros que descessem. Tínhamos que passar pela imigração francesa para podermos retornar à União Européia.

Em fila, um a um, fomos chamados para fazer a entrevista com os oficiais da imigração. Antes porém, precisávamos deixar as bolsas no chão para os cachorros cheirarem e verificarem se havia algo suspeito.

O cão se aproximou da minha bagagem. Um segundo foi suficiente para que a saborosa comida brasileira atraísse aquele sensível olfato canino. O oficial me olhou desconfiado e pediu que eu abrisse a bolsa. Eu gelei! Abaixei e, na frente de todos viajantes, abri minha bolsa para inspeção

Como fui me esquecer da maldita marmita? Logo eu que ODEIO imigrações!! Só pode ser a Lei de Murphy...

O oficial avistou a "simpática" embalagem metálica e me perguntou o que era. Foi quando minha ficha caiu. Como aquela situação estava constrangedora!!!! Não aguentei. Tive uma crise de riso!

O policial francês, surpreso com minha reação, gritava compulsivamente "Qu´est-ce que c´és? Qu´est-ce que c´és?" (O que é isso? O que foi?). Neste momento, já sentada no chão, fiquei rindo sem parar: da cena, da vergonha que eu estava prestes a passar, de nervosismo...

Respirei profundamente, me recuperei e finalmente, matei a curiosidade dos espectadores revelando o que havia dentro da minha bagagem.

Foi a primeira bronca em francês que eu levei na vida (ah sim, depois, ao longo das viagens, surgiram mais!). Ele alegava que eu deveria saber que era proibido transportar, aquele tipo de comida de um país para o outro, que eu era irresponsável, e blábláblá!

Me desculpei. Ele, resmungando, me deixou retornar à União Européia, afinal apesar de tudo, eu ainda tinha o visto holandês no meu passaporte.

E mais uma vez, por pouco, eu quase fui barrada em uma imigração...

Ah sim, e meu marmitex?

Digamos que o cachorro também teve um final feliz! Afinal pela primeira vez, no meio do expediente, ele estava comendo uma "comida de verdade"...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Nostalgia



Hoje faz exatos 3 meses que me despedi dos meus "holandezinhos". Como passou rápido! Sentada no ônibus, presa no caótico trânsito paulistano, comecei uma sessão nostalgia dos momentos que passei, ao longo de 12 meses, com a Karlijn e com o Tijmen.

Lembro nitidamente da voz, do cheiro, das manias, dos medos, das preferências, do jeitinho de cada um deles. Como foi possível eu me apegar tanto a 2 "pessoinhas" que até então, eu nem imaginava que pudessem existir?

Quanta coisa boa eu pude viver ao lado deles. E quantos perrengues eu passei por causa deles...

Lembro, por exemplo, da primeira vez que a Karlijn chorou. Era meu primeiro dia em terras holandesas e o primeiro instante que os pais haviam me deixado sozinha com as crianças. Fomos ao "playground" (parquinho) brincar. Próximo dali, havia uma fazenda com alguns animais. Meus mais novos irmãozinhos ficaram encantados com os mais diversos bichos e apontavam compulsivamente me mostrando cada um deles.

Karlijn correu junto à cerca, que a separava dos simpáticos animais, para poder acariciá-los. Só não contávamos (já que não havia nenhuma placa informativa) que a bendita cerca fosse elétrica.

Pronto! Foi tudo tão rápido! Em um segundo, lá estava ela caída no chão, chorando, gritando palavras holandesas que eu desconhecia, mas era óbvio deduzir que estavam relacionadas à dor. Peguei a menina no colo, fiz uma mímica para Tijmen me seguir (ele ainda não falava uma única palavra em inglês) e corremos para a casa.

Eu só queria acalmá-la e tentava não pensar o que os pais diriam, sobre meus primeiros 2 minutos como au pair. Como eu tive medo da reação deles!

Eu expliquei, receosamente, toda história à família. Neste dia, eu tive certeza de que meus pais holandeses realmente eram calmos e controlados. Eles não se zangaram comigo. Ainda bem! Apenas foram conversar com o dono da fazenda, para que ele sinalizasse a tal perigosa cerca...

Outro episódio tenso, foi quando Tijmen atropelou um carro com sua bicicletinha. O veículo estava parado no semáforo e Tijmen, estava pedalando enquanto olhava para os lados. Karlijn e eu gritamos, tentando alertá-lo. Porém quando olhamos novamente, o menino já estava no chão. Ficou apenas alguns segundos desacordado, mas foram suficientes pra quase me enlouquecer. Felizmente, mais uma vez nada de grave aconteceu...

Este mesmo menininho, de 5 anos de idade, acabou descobrindo "toda a verdade" sobre como veio ao mundo, mais cedo do que seus pais haviam planejado. Estávamos em casa, inocentemente, apenas ouvindo música. Dentre tantos artistas, tantas melodias, tantas letras, ele foi notar, justamente, a palavra "sex" (sexo em inglês), da música "Sexy back" (do Justin Timberlake).

Ficou gritando o dia todo, compulsivamente "sex, sex, sex, sex". Achei que logo ele esqueceria. Como eu fui ingênua! Bastou a mãe chegar para que ele lançasse um "Mãe, o que é sexo?". Minha host apenas perguntou "Aonde você aprendeu isso, Tijmen?", e ele alegremente respondeu "Com a Bianca". Mais uma vez, lá estava eu me explicando à minha família holandesa...

Como estes 2 me fazem falta...

E hoje, 3 meses depois, em outro continente e longe dos meus pequenos, fiquei relembrando todos estes fatos, rindo sozinha dos momentos cômicos, revivendo as situações tensas, confesso, que até mesmo derrubei algumas lágrimas ao pensar neles.

E das brincadeiras diárias, gargalhadas descontroladas, surpresas intermináveis, inúmeros sustos e imprevistos, me restaram somente as fotos, os vídeos e as lembranças...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Reveillon em Barcelona


Adoro viajar sozinha! Você fica mais independente, mais receptiva às novas experiências, aberta a novas amizades e principalmente, visita os lugares no seu próprio tempo. Confesso, porém, que eu AMO quando viajo (bem) acompanhada. Aliás, como é difícil encontrar alguém que esteja na mesma vibe que você! Que tenha gostos parecidos, o mesmo ritmo, ou que pelo menos, esteja disposto a respeitar as diferenças. Afinal, viajar com mais alguém nos obriga a ceder, a ser mais flexível, mais tolerante. Acima de tudo significa compartilhar: aventuras, descobertas, segredos, apuros, emoções, recordações.

E foi, justamente, ao lado de duas ótimas companhias que eu passei o Reveillon mais inusitado da minha vida. Ana, Amanda e eu decidimos, dentre tantas atraentes opções, que celebraríamos a chegada de 2009 na cidade mais badalada da Espanha: Barcelona

Havíamos feito reserva, em um albergue estudantil, para quase todos os dias de nossa estadia, com exceção apenas de um: o dia da virada do ano. Pesquisamos diversas possibilidades, antes do embarque, mas todas estavam muito caras para o nosso orçamento. Decidimos assim, procurar um lugar decente e econômico apenas quando chegássemos em "Barça".

Chegamos! Fomos seduzidas de tal forma pela magia espanhola, que o pacto de procurar o tal lugar decente acabou sendo, progressivamente, adiado. Durante as tardes na Capital da Catalúnia, nos perdemos nas apaixonantes obras de Gaudí, Miró, Dalí, Picasso. A noite, nos encontramos na vida boêmia universitária. Ah, Barcelona! Uma cidade que transpira cultura, alegria, arte e festas. Impossível não se deixar envolver!

Como aquela semana foi intensa! Em tão pouco tempo, quantas experiências novas! Passou tão rápido que quando nos demos conta, já era dia 31 de dezembro. Ainda não tínhamos um lugar para deixar as malas, tomar banho, trocar de roupa ou descansar, antes da tão esperada, noite de reveillon.

Tentamos, em vão, procurar algum albergue, pensão ou hotel, que tivesse disponibilidade, pelo menos, para guardarmos nossas malas e nos proporcionar um delicioso banho quente. Mas não havia mais vagas! Procuramos, e nada!

Sem muitas alternativas, resolvemos esquecer este empecilho, mesmo que momentâneamente e focar em um outro desafio que também tínhamos naquele dia: descobrir como chegaríamos ao aeroporto Girona, já que na manhã do dia primeiro de janeiro, voltaríamos à Holanda.

Fomos à rodoviária central. Recebemos à informação de que havia ônibus, a cada meia hora, diretamente para o aeroporto. Ótimo! Uma preocupação a menos. Mas ainda faltava a questão da hospedagem que ainda não havíamos arrumado.

Foi quando, com as pesadas e exaustivas mochilas nas costas, vimos os "lockers" (armários com chave, disponíveis em todas as estações européias). Mas é claro! Como não havíamos pensado nisto antes?

Quase que telepaticamente, nós três fomos em direção aos armários e decidimos que abandonaríamos a bagagem ali e aproveitaríamos o último dia do ano e de nossa viagem.

Pensamos em visitar alguns pontos turísticos, mas a disposição que havia no primeiro dia, já não existia mais. Não era para menos! Percorrendo insaciavelmente a cidade e frequentando "las fiestas" durantes as noites, havíamos dormido, na última semana, apenas 4 horas por dia.

Resolvemos, assim, dormir na praia. Deitamos no gramado, que havia antes de se chegar às areias do mediterrâneo e relaxamos. Ficamos ali, conversando, vendo o mar, o céu, as pessoas, ouvindo as músicas que eram tocadas nos bares próximos dali. Que tarde gostosa! Simples e especial!

Já que havíamos economizado com o dinheiro da hospedagem, resolvemos por unânimidade, que merecíamos investir em uma balada "boa". Além de ser um dia que havíamos criado tanta expectativa, nosso vôo só seria na manhã seguinte. Tínhamos que nos entreter na madrugada, sem direito a ter sono! Mas o momento para a contagem regressiva se aproximava e ainda não estávamos, fisicamente, preparadas!

Voltamos à rodoviária, abrimos o "locker", pegamos às mochilas e fomos ao banheiro, dali mesmo da estação. Tomamos um "pseudo banho"na pia, colocamos uma roupa digna da ocasião, nos maquiamos. Sim, confesso que chocamos, um pouco, à sociedade local. As pessoas que entravam no banheiro e se deparavam com nossa situação, ficavam sem entender e até lançavam assustados e curiosamente um "¿Que pasa?" !

Guardamos de volta a bagagem no armário e voltamos à praia, aonde aconteceria a celebração de fim de ano e aonde estava situado o Catwalk, balada que havíamos escolhido para passar toda a madrugada e que nos proporcionou tantos momentos, histórias e ótimas lembranças...

Pois é! E eu repito: Como AMO viajar (muito!) bem acompanhada. Meu reveillon tinha todo um potencial para ser um fiasco. Mas não foi! Pelo contrário, foi o melhor que eu já tive! Ótimo porque a gente conseguiu transformar uma dificuldade em uma grande aventura, e inesquecível porque eu não estava apenas com duas grandes amigas, mas principalmente com duas excelentes companheiras de viagem: divertidas, flexíveis, animadas, tolerantes, imprevisíveis.

Mandinha e Ana eu só posso lhes dizer uma coisa, chicas: "Muchas Gracias!"

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Relacionamento com os felinos



Durante meu ano de intercâmbio na Holanda não sofri de"homesick" (saudades de casa), me adaptei facilmente à rotina de au pair, não tive problemas com os pais hospedeiros e logo me apaixonei pelas crianças. Perfeito, não? Poderia até ser, se eu não tivesse que ter convivido com mais dois habitantes da casa.

Streepje e Elcha estavam no topo da hierarquia familiar. Ganhavam beijos, abraços e presentes! Eram duas gatas mimadas por todos. Ou melhor, por quase todos. Não tenho nada contra animais, pelo contrário, eu adoro! Tenho 5 cachorros, aliás! Mas por alguma razão, desde a infância, nunca gostei de gatos.

Antes do embarque, eu já sabia da existência destes dois "simpáticos" animais de estimação e não me emploguei. Mesmo consciente disto, eu havia gostado tanto da família que estava disposta a encarar as tais gatas. Só não sabia que elas me dariam tanto trabalho.

Não é mania de perseguição, mas parece que elas sentiam que eu não gostava da presença delas e forçavam uma aproximação só para me irritar. Logo na minha primeira semana, por exemplo, Elcha conseguiu arranhar o olho de uma das amiguinhas da Karlijn, ocasionando uma hemorragia, vários gritos e choros infantis descontrolados. Só não tive o AVC, porque precisei chamar a mãe da vítima, o médico, acalmar as crianças e desenrolar meu holandês, que até então, era inexistente. Como fiquei tensa naquele dia!

Também já tropecei na escada, porque a mesma gata entrou, propositalmente, na minha frente. Além de machucar o joelho e ter dificuldades para pedalar durante muitas semanas, ainda quebrei o jogo de porcelana chinesa, relíquia da família, que eu estava carregando no momento da queda. Foi assim que, injustamente, ganhei a fama de desastrada. Eu achava que meu relacionamento com os felinos não poderia piorar. Eu achava...

Em uma manhã de inverno, os pais (Gerwin e Mark) já haviam saído para trabalhar e as kids (Karlijn e Tijmen) estavam na escola. Eu estava sozinha em casa. Quer dizer, eu e elas! Aproveitei o momento ocioso para tomar um banho quente de banheira. Depois desci ao primeiro andar, vestindo minha camisola e ainda com a toalha na cabeça, fui tomar meu café da manhã. Fazia -5 graus. Lá fora a neve caia e ali dentro eu estava aquecida, relaxando, apenas usufruindo do meu horário livre. Tudo estava perfeitamente calmo!

Foi quando eu vi Streepje próxima à porta. Ela miava, desesperadamente, porque queria sair de casa. Abri a porta e ela saiu. Alguns minutos depois, no entanto, lá estava a gata, novamente em frente a porta, mas desta vez miando do lado de fora. É, realmente deveria estar muito frio. Resolvi ajudá-la!

Uma das razões pra eu não gostar de gatos é que eles nunca me obedecem. Se fosse minha cachorra, eu tenho certeza que ao abrir a porta simplesmente, ela teria entrado, "agradecido" e estaria disposta a brincar. Mas Streepje não era assim. Ao abrir a porta ela fugiu de mim e correu para o meio da rua.

Fiquei, pacientemente, insistindo pra que ela entrasse, mas ela se afastava cada vez mais. A princípio, pensei em deixá-la ali fora mesmo. Afinal, não queria passar minhas horas de folga tentando persuadir uma gata bipolar. Fui para a sala assistir a um filme.

Porém a idéia da gata morrendo congelada por minha causa e minha host family tentando entender porquê eu tinha "abandonado" o pequeno animal na neve, logo me veio a mente. E se ela realmente congelasse? O que eu diria às crianças? Muito irritada com o sentimento de culpa, voltei para o frio para fazer o resgate.

Eu ainda vestia a camisola e a toalha ainda estava na minha cabeça, mas eu só precisava colocar uma "indefesa" gatinha dentro de casa. Não me preocupei em trocar de roupa, achei que seria rápido. Afinal o que poderia acontecer?

Poderia ter sido rápido, porém mais uma vez Streepje correu para longe, assim que eu abri a porta. Chamei, conversei, gritei e até expliquei, em português (lógico!), o porquê ela tinha que entrar. Mas ela não me ouviu. Talvez Karlijn tivesse mesmo razão, aquela gata deveria saber apenas holandês.

Decidi pegá-la a força. Até hoje me arrependo desta estúpida decisão. Eu poderia ter ficado assitindo ao meu filme e bebendo meu capuccino. Ao invés disso, lá estava eu, com aqueles trajes, correndo atrás da gata.

Quando me aproximei de Streepje, estava convicta de que a pegaria, mas ela foi mais rápida e correu, desta vez entretanto, para dentro de casa. Ufa, finalmente havia conseguido!

Eu estava de rasteirinha e tentava não encostar meus pés na neve. Feliz com o meu talento para convencer gatos, voltei caminhando vagarosamente. Ventava, nevava e só o que eu desejava, era deitar na cama e ficar bem agasalhada.

Foi quando eu percebi! Não sei se foi o vento ou se foi a Streepje, mas por algum motivo a porta, que só abria por dentro, agora estava fechada. Não podia acreditar! Fazia tanto frio e eu estava sem chave, sem celular, sem dinheiro e praticamente, sem roupa. E lá dentro, estavam as duas gatas olhando pra mim, quentinhas e felizes! Grrrrr!!!!!!

Tentei a porta dos fundos, as janelas, a garagem, mas estavam todas trancadas. Droga! O vento era cortante e eu ainda não havia conseguido solucionar aquele problema. O frio era tanto que eu não conseguia raciocinar. Chamei os vizinhos, mas nenhum deles me respondeu, provavelmente já haviam saído para trabalhar. Tentei atravessar a rua para pedir ajuda à diarista da casa da frente, mas não estava com calçados apropriados para encarar a neve.

Fiquei, aproximadamente, 2 horas congelando. Me enrolei na toalha molhada, sentei próxima a porta e fiquei ali pensando como faria para buscar as kids. O horário de saída da escola se aproximava. Eu não conseguiria andar tantos quarteirões com a rasteirinha, muito menos queria mostrar minha camisola para todos os habitantes da cidade. Também não teria como avisar aos meus pais holandeses, já que além de não estar com o celular, eu ainda não havia decorado o número deles.

Eu já estava roxa, mal sentia meu corpo e enquanto isso as "adoráveis" gatinhas ainda olhavam alegremente, de dentro da casa, para mim. Não tinha força nem para sentir raiva. Já tinha me conformado que era mesmo o meu fim.

Mas ainda não era. Estava de cabeça baixa, quando ouvi o barulho de um carro. Era a minha vizinha! Fui até lá, tentando manter a calma, mas bastou ela perguntar o que havia acontecido comigo, pra eu começar a chorar. Não parei mais! Chorei muito! Ela se assustou com minha reação e me convidou para entrar em sua casa. Enquanto tomava um café quente e me agasalhava, contei toda história à ela.

Para minha sorte, a bondosa mulher, era amiga da minha host mother e tinha o número do celular dela. Ela discou e eu falei. Contei, pausadamente, todos os fatos e em poucos minutos ela estava ali.

Eu estava me sentindo tão vulnerável! Devido à uma gata descontrolada e à maldita porta, lá estava eu atrapalhando o trabalho da host, fazendo com que ela pedisse a tarde livre só pra me dar a tal chave que eu tanto havia cobiçado durante as horas no frio.

Quando ela chegou, me viu e simplesmente, me deu um abraço, logo me lembrei porque valia tanto a pena aturar, diariamente, aqueles 2 animais de estimação. Expliquei, agora com mais detalhes, toda minha odisséia, tentando justificar o porquê eu a havia incomodado. Ela, porém, não parecia se importar com os motivos da saída repentina do trabalho.


Entramos. Enquanto eu tomava outro banho quente, ela me preparou um chá. Ainda abalada com a situação, ganhei todo o dia livre para me recuperar. Gerwin alegou que buscaria os próprios filhos. Afinal, fazia tempo que ela tinha vontade de fazer isso, mas na maioria das vezes, não podia estar presente.

Felizmente, nada demais aconteceu. Eu poderia realmente ter congelado. Ou no mínimo, ter os membros necrosados, resultando em uma amputação. Nada aconteceu! Graças a vizinha que, por alguma razão, resolveu chegar mais cedo em casa, justamente, naquele dia que eu estava trancada para fora.

Hoje, quando saio de casa, mesmo que seja até a porta, coloco roupas mais "adequadas"e tenho sempre no bolso: dinheiro, celular e chave. Esta lição, pelo menos, eu aprendi. Só não aprendi, até agora, a gostar de gatos...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Surfando o sofá alheio


Lembro que a primeira vez que eu ouvi sobre o CouchSurfing, eu logo pensei: "Que loucura! Isso não deve ser seguro"! No começo, a idéia de me hospedar no sofá (couch) de um desconhecido, me parecia indiscutivelmente absurda! Mal sabia, porém, que apenas 1 mês depois desse julgamento precipitado, eu não apenas reformularia os meus conceitos, como também passaria a ser adepta à esta filosofia de vida.

Como o próprio site descreve, o "CouchSurfing é uma rede mundial para fazer conexões entre viajantes e as comunidades locais que eles visitam". Portanto, se você é uma pessoa flexível, que não se importa com o conforto da hospedagem, mas sim em conhecer novos lugares e pessoas, esta é uma ótima maneira para fazer amigos e economizar uma graninha.


Veneza, Roma, Milão, Budapeste, Luxemburgo, Atenas, Amsterdam, Praga, Viena, Sofia, Zurique, Istanbul foram apenas alguns dos destinos, em que eu pude ser hospedada por nativos, fazer novas amizades, aprender um pouco mais da cultura e visitar locais incríveis que não são sugeridos em guias turísticos. Através do CouchSurfing eu pude, mais do que conhecer lugares famosos, vivenciar realmente, pelo menos um pouquinho, o cotidiano e os costumes de diferentes povos.


Dentre tantas experiências positivas, houve uma, no entanto, que me marcou muito: Santorini. Algumas semanas antes do meu embarque, consultei a ferramente de pesquisa do site e constatei que havia apenas 6 pessoas cadastradas, morando na paradisíaca ilha grega. Com pouca esperança de que algum me respondesse, já que era alta temporada, época em que os gregos tiram férias, resolvi, mesmo assim, solicitar hospedagem a todos eles. Afinal, o máximo que poderia acontecer era não obter respostas. Para o meu espanto, porém, no mesmo dia em que eu havia escrito as mensagens recebi o retorno de um deles.


Alex escreveu que estava disponível para me hospedar durante o período solicitado. Mal pude acreditar! Afinal, além de Santorini ser um dos destinos mais caros do mundo, a demanda de "surfers" na ilha é enorme, em relação à quantidade de pessoas que estão disponíveis a hospedar. Sem hesitar, confirmei com ele minha ida e passei os detalhes da minha chegada!


Foram 5 horas de Ferry boat de Atenas à Santorini. Quando cheguei na ilha vulcânica fiquei, literalmente, de boca aberta. As pedras de coloração escura, com as famosas casinhas brancas, contrastavam com o azul intenso do mar. Só não era confundido com o céu, pois as ondas brancas limitavam as fronteiras. Lembrei das cores da bandeira grega, branca e azul, e admirando aquela paisagem, pensei ter descoberto o motivo da escolha de tal cores.


Fui interrompida do meu devaneio, apenas quando Alex, que já me esperava no porto, veio me chamar. Fomos devidamente apresentados e logo em seguida, fomos dar uma volta pela ilha de moto. Enquanto eu me deslumbrava com o lugar, ria internamente em pensar o que minha família e meus amigos diriam, se soubessem que eu estava ali, já na garupa de um desconhecido.


Alex era o DJ mais famoso de Santorini. Ele migrava, anualmente, durante o verão, para tocar nas ilhas mais badaladas da Grécia. Durante os 4 dias da minha estadia, fui a diversas festas como convidada VIP, passei muitas tardes na praia, conheci muita gente interessante, experimentei a culinária local e até mesmo fui contratada, por indicação do host, como Bar Woman de um dos bares mais conhecidos dali. Como eu me diverti naquela ilha!


Hoje relembrando todos os ótimos momentos que vivi, graças a todas as pessoas que gentilmente abriram a porta de suas casas para mim, percebo que muito mais do que aprender com as diferenças, eu pude, principalmente, ter certeza que ainda podemos confiar nas pessoas. Mas não porque você as conhece ou porque conquistaram sua confiança. Confiar porque, simplesmente, todo ser humano deveria ser, por natureza, honesto.


Utópico? Pode até ser. Mas você só conseguirá sentir o que eu senti, se você também se permitir e experimentar...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

(De) Saia pelo mundo


Sempre fico ansiosa antes de alguma viagem! Confiro infinitas vezes se estou levando todos os documentos, divido o dinheiro em diferentes compartimentos, anoto números de telefone e endereços que possivelmente serão úteis, confiro (se for o caso) os horários da passagem, e mesmo assim, enquanto eu não embarcar, eu não sossego!

Houve um destino, porém, que a ansiedade e o nervosismo me atingiram mais intensamente do que de costume. Apesar de me deslumbrar com a idéia de conhecer a cidade em que os continentes europeu e asiático se encontram, o fato de viajar SOZINHA a um país, cuja a maioria da população é muçulmana, me apavorou. Porém, a vontade de explorar o chamado "Portão para o Oriente" era maior do que qualquer receio.

Assim, no dia 14 de agosto, as 03:30 da manhã eu cheguei no aeroporto Sabiha, situado no lado asiático de Istanbul. Ao descer do avião, eu já pude notar que seria um destino realmente diferente de todos que eu já havia visitado.

Em plena madrugada, sozinha, sem falar turco e sem coragem pra pegar um taxi, decidi que esperaria até que o sol nascesse para só então começar a desbravar a cidade. Sentei em um banco, próximo a um restaurante, coloquei a mochila de lado e já que não conseguia dormir, fiquei apenas observando o recinto.

Mesmo naquele horário o aeroporto estava um caos. Gente esperando na fila do check in, crianças correndo pra lá e pra cá, pessoas se despedindo e se reencontrando. Havia muitas mulheres de burca, algumas apenas com um lenço cobrindo os cabelos e duas coisas eu logo pude reparar: eu era a única mulher que não estava acompanhada por um homem e a única que não usava burca ou lenço.

É claro que eu já havia tido o cuidado de escolher uma roupa um pouco mais, digamos assim, discreta. Vestia meu jeans, tênis, um suéter para cobrir os braços e um lenço para não mostrar o pescoço. Já haviam me alertado que decotes, vestidos ou qualquer outro tipo de vestimenta provocativa, não seria uma boa idéia. Resolvi não duvidar!

As 09:00 da manhã, já um pouco mais tranquila, decidi que era finalmente hora de encarar, seja lá o que estava me esperando fora do aeroporto. Seguindo as instruções da minha host Kardelen, que eu havia contactado antes de viajar através do site Couchsurfing (logo farei um post sobre isso!), perguntei a um policial "'Havas otobüsleri nerede?", ou seja "Aonde estão os ônibus Havas?". Ele me apontou a direção que eu deveria seguir e minutos depois eu já estava a caminho da Taksim, a avenida mais agitada da cidade e local aonde eu encontraria a minha host.

Já durante o trajeto fui me apaixonando pela cidade. Era tudo tão diferente! As cores, o cheiro, o som do idioma, o trânsito caótico (que me fez lembrar o Brasil), as mesquitas, mais mulheres vestindo burcas. Pude reparar, inclusive, que já que as muçulmanas cujo os maridos são mais conservadores, não podem mostrar o corpo, elas investem nos acessórios. O traje preto pode até ser o mesmo, mas os óculos e as bolsas demonstravam um pouco mais do estilo de cada uma.

Cheguei a Taksim e logo procurei o Mc Donalds, aonde eu havia combinado de me encontrar com a Kardelen. O caos parecia ainda maior nesta parte da cidade. Eram tantas mesquitas, tantas pessoas, tantos restaurantes exóticos que por mais que eu tentasse fingir que não era turista, minha cabeça girando compulsivamente de um lado para o outro, facilmente me desmascarava.

Estava entretida com o som das preces, quando ouvi alguém gritar "Bia!!!!". Olhei e vi uma menina loira sorridente, de óculos floridos, unhas azuis, tatuagem no braço e mini-saia pink. Definitivamente, a Kardelen logo quebrou o estereótipo que eu tinha das turcas.

Depois das devidas apresentações fomos até a sua casa para que eu finalmente, abandonasse, pelo menos naquele momento, minha pesada mochila. A essa altura eu quase já não conseguia mais sentir os meus ombros. Com uma temperatura de 40 graus e seguindo os conselhos da minha mais nova amiga, decidi que também já era hora de trocar de roupa. Resolvi colocar um vestido, ainda um pouco insegura, mas o calor era tão insuportável que me fez tomar essa decisão e não pensar mais sobre o assunto.

Não tive nenhum problema de "assédio" com os turcos. Eu só conhecia europeus que já haviam visitado Istanbul, portanto os conselhos foram um tanto quanto exagerados. Haviam me apavorado desnecessariamente, em relação aos homens "ousados", à violência, à falta de educação, ao fanatismo religioso. Entendo que as realidades sejam diferentes, mas no final acabei concluindo que quem nasce no Brasil, já está preparado para tudo rs. Não me senti ameaçada em nenhum momento, pelo contrário conheci muita gente que me acolheu muito bem.

Hoje a recordação que eu tenho de Istanbul não são apenas das grandiosas mesquitas, das comidas temperadas, dos parques floridos, das noites nos bares de narguile, das baladas agitadas, dos bazares lotados ou do tal banho turco. Istanbul foi especial, acima de tudo, porque eu não permiti que meu (desnecessário) medo prévio, fosse maior que minha vontade de conhecer. Sim, precauções devem ser tomadas, mas nunca impedir que nossa arrogante mania de achar que sabemos toda verdade, nos impeça de experimentar, viver, sentir....

Afinal, como já dizia Amyr Klink: "Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver."

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

De volta pra casa


É engraçado perceber que mesmo depois de ter passado este período fora, as coisas aqui em casa continuam as mesmas. Os livros com o marca página aonde eu havia parado minha leitura, as roupas que eu havia deixado nas gavetas (que eu já nem lembrava mais da existência), as fotos do mural carinhosamente selecionadas, os móveis que continuam na mesma posição. As vezes tenho a impressão, de que nada foi atingido pelo tempo.

O abraço da minha mãe ainda é o meu melhor calmante, a risada do meu pai a mais engraçada, as cosquinhas do meu irmão que continuam me perturbando. Como é bom poder reencontrar pessoas queridas, abraçá-las, ouvir e contar as novidades, apenas ficar junto...

Senti falta do cheiro do café, dos almoços de domingo, de jogar baralho com meus pais antes de dormir, de não ter hora pra acordar. Senti falta dos amigos, daqueles que mesmo longe se fizeram tão presentes. Quando os reencontrei, tive a doce sensação de que a despedida havia sido apenas por um dia, e não por um ano.

Ao mesmo tempo, também é estranho notar que apesar de tudo ainda ser igual, eu já não sou mais a mesma, e perceber que na verdade, é justamente isso que faz toda diferença. A minha "essência" pode até ter permanecido, mas os meus pontos de vista e algumas das minhas"verdades" acabaram sendo modificadas.

Já não tenho mais o mesmo gosto, a mesma tolerância, o mesmo comportamento, os mesmos hábitos, as mesmas reações. Porém não acho que mudar seja algo negativo, pelo contrário, ainda acredito que "mudança" seja sinônimo de evolução.

E eu que pensava que com esta viagem, além de conhecer outros países, eu iria principalmente, me conhecer melhor. No fim, acabei mudando tanto que já nem me reconheço mais...

E não é que ironicamente, depois de conhecer tantas terras estrangeiras, parece que eu fui ter o tal do "choque cultural" só depois de voltar ao meu próprio país?

Agora só me resta aproveitar esta fase para matar a saudade, mexer os meus pauzinhos e acreditar no clichê de que "o futuro é sempre promissor". Mas, só pra quem corre atrás...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Mijn lief zusje...

Falta menos de uma semana pra eu retornar ao Brasil! Eu ainda nem fui, mas tenho certeza que sentirei MUITA falta desta vida de au pair. Portanto é por isso que postarei outro vídeo. De certa forma, além de vocês conhecerem um pouquinho da minha rotina é principalmente, uma maneira de eu arquivar estes momentos tão doces. Este foi gravado hoje com a menininha que eu cuido.

Karlijn tem 7 anos e além de linda, é a criança mais inteligente que eu conheço (ok, ok, eu sei que já deu pra perceber que eu sou uma "irmã coruja", mas é verdade!!!).

Pra que falar mais se vocês podem assistir e conferir?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Uma noite babysitting...

Uma das minhas raras (Ufa!) noites de babysitting...Divertidas e cansativas!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Nem toda brasileira é (vaga)bunda...

No dia 12 de setembro de 2008, devido uma conexão da Alitalia, desembarquei no aeroporto Malpensa, em Milão. Estava destinada a passar 4 horas por ali, antes de pegar um vôo a Dusseldorf, onde minha família holandesa me buscaria. Fazia 30ºC quando eu saí de São Paulo e fui recepcionada por um verão europeu de 15ºC. Eu tentava resistir ao frio e ao nervosismo que teimavam em aparecer.

Não estava fazendo nada errado, mas a idéia do meu destino depender da boa vontade de um indivíduo, que não tinha a menor noção do quanto eu havia almejado estar ali, me perturbava. Eu já esperava ser interrogada, mostrar documentos, explicar o porquê eu queria morar um ano na Europa, tentar convencê-los de que eu não ficaria ilegal no continente e todo aquele blá,blá,blá. Eu tinha em mãos visto, carta da família, seguro médico, os euros requisitados e passagem de volta ao Brasil, mas mesmo assim, viajar com passaporte brasileiro sempre causa uma certa insegurança.

Depois de algum tempo na fila, enfim, havia chegado a minha vez. O oficial italiano pediu meu passaporte e viu que eu vinha do Brasil. Pronto! Bastou saber que eu era brasileira para o comportamento mudar. Checou visto, toda a documentação, fez milhares de perguntas e então me mandou tirar o casaco(?). E ali na fila, ele deu um sorrisinho malicioso, colocou a mão por dentro da minha blusa e acariciou a minha cintura. Só então, falou que eu podia ir. Eu gelei, mas desta vez não era por causa do frio.

Não tinha chorado quando me despedi dos meus pais, do meu irmão, dos meus amigos. Não havia chorado, mesmo vendo minha mãe chorar no aeroporto de Guarulhos. Mas ali em Milão, depois de ter "passado" pela imigração, eu chorei!

Fiquei com raiva, tive nojo, me senti humilhada e não tinha a quem recorrer.

Durante estes meses na Europa, o episódio com o oficial não foi o único e nem o último. E conversando com outras brasileiras, vejo que o "assédio" não foi só comigo. Independente do biotipo, quando você fala que é do Brasil, a reação masculina é sempre a mesma "Hummmm, Brazil? Really?", seguido de um olhar mal intencionado.

A pior parte é saber que este rótulo não foi criado ocasionalmente. O grande número de prostitutas brasileiras no velho continente e o tal carnaval com suas mulheres nuas, apenas reforçam este conceito aos estrangeiros.

É claro que existe gente legal e babaca em qualquer lugar. É lógico que encontrei muitos "gentlemen" mundo afora. E é óbvio também que toda mulher gosta de se sentir bonita e desejada, portanto confesso que, DEPENDENDO do gringo, até falei que era brasileira, com aquela intençãozinha de provocar. Mas mesmo assim, nem toda brasileira é "(vaga)bunda", poxa! Ou pelo menos, não sempre e muito menos, com qualquer um.

A mulher brasileira parece não ter nome, rosto ou personalidade. Para a maioria dos gringos, ela apenas tem um corpo bonito e sabe sambar. Portanto, meu amigo, se um dia alguém te perguntar sobre as tais mulheres brasileiras, experiemente apresentá-lo à Tarsila do Amaral, Cecília Meireles, Lya Luft, Elis Regina ou Fernanda Montenegro. Quem sabe assim a gente não consegue, finalmente, acabar com este estigma!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Coisas que a gente perde viajando

Perdi meu secador de cabelo e meu Mp4 (ambos 110volts), quando os pluguei em uma tomada 220. Perdi inúmeros brincos, mundo afora, e ainda não faço a menor idéia de como eles sempre desaparecem das minhas orelhas. Perdi as contas de quantas vezes fui obrigada a comprar meias-calças, mesmo não achando que elas sejam "sedutoras" (muito menos confortáveis) e mesmo sabendo que duram apenas uma vez. Mas, foram elas que fizeram com que eu não perdesse o costume de usar vestidos e saias durante o inverno europeu.

Perdi um trem para Amsterdam, porque cheguei 1 segundo atrasada. Perdi o ticket do meu transfer até o aeroporto, em Barcelona, depois de 3 minutos que eu o havia comprado. E neste mesmo lugar, eu perdi totalmente "a noção" depois de passar uma virada do ano, no mínimo, bizarra!

Perdi a fome, muitas vezes, por ver pessoas comendo pão com maionese, queijo e granulado (argh!). E ainda perco, toda vez que vejo os atendentes recebendo o dinheiro, não lavando a mão e entregando a comida. Mas, perdi o nojo na França e me rendi ao scargot.

Perdi o sono depois de chegar as 04:00 da manhã na estação de Praga, e ter que ficar esperando o sol nascer ao lado de mendigos, bêbados e homens brigando. Perdi "a linha" depois de uma noite open bar em Budapeste. Me perdi na Bulgária, infinitas vezes, porque as pessoas só me davam informação em búlgaro ou russo. Perdi a frescura de levar salto alto na mochila, depois de ter ficado com várias bolhas nos pés.

Perdi a vergonha de me hospedar na casa de pessoas desconhecidas. Foi justamente graças a todas elas, que eu não perdi a oportunidade de conhecer tantos países na Europa. Depois disso, perdeu a graça visitar apenas os lugares turísticos e perdi o sossego, porque desde então, não consigo mais cogitar a idéia de pagar hotel.

Perdi, há muito tempo, o medo de viajar sozinha. Também perdi a mania de deixar de jantar
em restaurantes, ir a baladas, ou sentar em um pub, só por não ter companhia. Mas, ainda perco a paciência, por encontrar tantos gringos que acham que toda brasileira é p*.

Perdi a vontade de falar com gente que só me pergunta, sobre a legalização das drogas na Holanda. Perco a esperança no ser humano, quando vejo pessoas que acham divertido quebrar garrafa de bebida alcoólica na rua. Ou ainda, quando vejo que muitos perderam o respeito e primitivamente, jogam lixo no chão. Apesar disso, também não quero entrar para aquele tal grupo, dos que não perdem o hábito de reclamar, e acreditam que o "mundo está perdido", mas não fazem nada para mudá-lo.

Quer saber? Eu ja perdi tanta coisa viajando, mas nunca quero perder esta paixão por viagens...Porque no fim, perder e ganhar são, simplesmente, dois lados da mesma moeda!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Uma tarde com o Tijmen...

Este vídeo foi gravado durante uma tarde em que eu estava sozinha em casa com o Tijmen (A Karlijn estava no Balé).

Apesar de ter apenas 5 anos, ele já consegue entender várias palavras em inglês, desde que sejam pronunciadas pausadamente. Até mesmo quando eu converso com ele em holandês, ele também tenta responder na língua inglesa.

Assistam e apaixonem-se pelo meu "dutch guy"!!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Pedalar é...




Protagonista da minha infância e hoje, parte fundamental da minha rotina. Como falar dos Países Baixos sem citar a tal da bicicleta?

Posso afirmar que durante todos os dias em que eu vivi aqui, eu pedalei. Durante TODOS! Com sol, chuva, vento, neve, disposta, cansada, sozinha ou acompanhada. Seja por obrigação ou opção, ela se fez presente.

Em um país tão organizado aos ciclistas, com direito a estradas próprias, semáforos, mapas de rotas específicas, não tinha como não se envolver com esta filosofia de vida. Uma paixão redescoberta!

Percebi que depois de um dia estressante, pedalar faz com que eu relaxe, pense, reflita, absorva, entenda. São durante as minhas voltas de bike que eu organizo as idéias, que eu relembro fatos já ocorridos, que eu traço mais metas, que eu, simplesmente, aprecio a bucólica paisagem holandesa, ou até mesmo, belga!

Pedalando eu me sinto mais viva! É conhecer lugares, tentar novas trilhas, se perder, se encontrar, descobrir, quebrar fronteiras...É cair, levantar, prosseguir. Alguns caminhos mais simples, outros mais complicados. É a mais pura metáfora da vida...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Pais holandeses


Durante as férias escolares, ficou decidido que as crianças que eu cuido, passariam 2 semanas com os avós e depois, viajariam 3 semanas com os pais. Assim, desde segunda-feira passada estou em casa apenas com meus "pais" holandeses.

Apesar de já sentir falta dos meus 2 pentelhinhos (rs), confesso que passar estes dias de férias estão me fazendo muito bem! Sem horário para acordar, sem obrigação, com tempo suficiente para planejar minha próxima viagem, pedalar no fim da tarde, correr às margens do rio, estudar francês enquanto eu tomo sol no parque, aproveitar pra ficar sozinha, colocar as idéias no lugar...

Mas, mais do que relaxar ou investir nos meus planos futuros, este tempo está sendo fundamental para eu curtir a companhia do Mark e da Gerwin (os tais pais holandeses). Sem as manhas ou os choros inesperados na hora do jantar, as conversas ficaram mais intensas, a cumplicidade aumentou e a nostalgia já acontece.

Hoje a noite eu preparei um jantar brasileiro para os dois. Enquanto jantávamos, relembramos os fatos que aconteceram nestes últimos meses. O dia da minha chegada, a ansiedade, a expectativa, o período de adaptação, o choque cultural, os pontos de vista, as viagens, as surpresas, as diferenças, os desabafos...Quanta coisa aconteceu em tão pouco tempo!

É, e entre tantos lugares, tantas famílias, tantos caminhos, eu vim parar logo aqui! Ainda nao entendo o porquê, mas não poderia ter escolhido melhor. Afinal, eu acabei vindo morar com a segunda melhor família do mundo. Porque a primeira, está me esperando lá no Brasil...

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Por que não Holanda?

Localização da Holanda na Europa

Localização de Maastricht na Holanda

Quando informei meus amigos e familiares sobre minha viagem à Holanda, dentre tantas opiniões diferentes, tantos palpites (não que eu pedisse), apenas um questionamento foi unânime: Por que Holanda?

Já que é pra quebrar os rótulos, você sabia que, apesar de ser comumente conhecido, o nome correto nem é Holanda? Holanda do Norte e Holanda do Sul são na verdade duas, das 12 províncias, que constituem os Países Baixos (Netherlands). São nestas 2 que, praticamente, gira toda a economia. Mas, seria o mesmo que a gente chamasse todo o Brasil, por exemplo, de São Paulo ou Rio de Janeiro. Essa confusão de nomes que a grande maioria dos estrangeiros faz, irrita (e muito), principalmente, os holandeses (dutch) que não moram nestas províncias.

Além disso, apesar do idioma oficial ser o holandês, a maioria da população fala, pelo menos, inglês fluentemente. Segundo os dados do Consulado "73% dos holandeses falam uma língua estrangeira, 42% falam duas e 12% falam mais de duas. ". Assim, logo me animei com a possibilidade de poder treinar vários idiomas, morando em um só lugar.

No entanto, mais do que cuidar de crianças, ou aprimorar conhecimentos linguísticos, o que realmente me estimulou a ser Au pair nos Países Baixos, foi a possibilidade de quebrar tantas fronteiras, em tão pouco tempo.

Tenho que admitir que a localização estratégica da cidade em que eu vivo (Maastricht, ao sul do país, entre as fronteiras alemã e belga), o número de dias livres que minha família holandesa me forneceu , a variedade de companhias "low cost" (com baixo custo) que operam nas proximidades daqui e uma certa dosagem de cara de pau, fizeram com que eu cumprisse minha meta: Viajar, pelo menos, a 1 novo país por mês!

O salário de au pair estabelecido pelo governo Holandês é de 300 euros mensais. Apesar de não ser muito, eu não tenho nenhum gasto fixo. Hospedagem, refeições, seguro médico, um curso de língua estrangeira são, obrigatoriamente, pagos pela família hospedeira. Assim, antes mesmo de embarcar para a Europa, eu já havia me feito uma promessa: investiria todo meu dinheiro em viagens.

Mesmo economizando cada centavo pra poder viajar (sim, eu tenho que me controlar muito para não comprar roupas, eletrônicos ou livros), não deixei de ter uma vida social ativa: ainda saio todos os fins de semana! A vantagem é que as baladas são gratuitas, os holandeses são cavalheiros (e pagam bebidas às mulheres) e eu não preciso gastar com taxi ou gasolina, já que o transporte mais utilizado é a bicicleta.

E entre sacrifícios e planejamentos eu poderia contabilizar as minhas experiências, resumidamente, da seguinte forma: 16 países visitados, 2 certificados de idiomas, pernas mais tonificadas em razão da quantidade de vezes que eu fui obrigada a pedalar, amigos de diversas partes do mundo, alguns novos amores, inúmeras histórias inesquecíveis e muitos, mas muitos, sonhos realizados...

Que venham os próximos 2 meses, mais surpresas, sorrisos, momentos, pessoas, sensações, descobertas! Que venha principalmente, minha última (e tão esperada) viagem em terras européias...Última? Deste ano, claro!

sábado, 25 de julho de 2009

Ingênua(mente) infantil


Dentes de leite que caem, dentes permanentes que nascem, roxos nos joelhos que não param de aparecer. Bicicletas que já não mais precisam de rodinhas, livros que já começam a ser lidos, palavras que já são ditas e compreendidas em inglês. É, o ano realmente passa, os meus pequenos crescem e o meu tempo com eles diminui!

Cada um com seu jeitinho, com sua personalidade, com suas preferências e intolerâncias. Karlijn gosta de dançar, de se maquear, de aprender palavras em português, de se sentir "gente grande", de bater na porta do meu quarto, escondida dos pais, para me dar um último beijo de boa noite. Tijmen prefere brincar de lego, não gosta de frutas, adora quando eu o pego de cavalinho, quer saber o "por que" de tudo, mas ainda não percebeu que várias vezes, eu também não tenho a resposta. "Por que você precisa voltar pra casa, se aqui na Holanda você já está em casa?" Apenas uma, das inúmeras perguntas, que eu não soube responder.

Neguei vários doces, mandei voltarem pra cama, desliguei a televisão, tive que obrigá-los a tomar banho. Não falem com estranhos, olhem antes de atravessarem a rua, não bata na sua irmã, nao xingue seu irmão, não coloquem o gato no microondas!!!

Mais do que aprender a educar 2 crianças, eles me ajudaram, principalmente, a relembrar a beleza da inocência, da vida simples, de alegrar-se com as pequenas coisas. Como é gostoso tomar um banho de chuva, fazer cabaninha, pisar descalça na grama, brincar com bolha de sabão, montar quebra-cabeça, pega-pega, rir até a barriga doer. Tomar chocolate quente, plantar bananeira e virar estrelinha, fazer careta no espelho, ganhar um abraço depois de um pesadelo, sentir vontade de voltar pro Brasil, mas desistir da idéia quando ouvir um "eu te amo" em uma língua, até então, desconhecida.

Vai chegando a hora de me despedir e eu ainda não sei como dizer "adeus". Por mais racional que eu seja, ainda não consigo imaginar como serão os meus dias sem eles. Responsáveis pela minha alegria e pelo meu cansaço. Com eles testei minha paciência, meu equilíbrio, minha flexibilidade. Me tornei mais madura, mas ao mesmo tempo, resgatei meu lado infantil.

As lágrimas já caem, a saudade já vem, o coração já dói. A gente tem que fingir que é forte, prometer que tudo ficará bem e que mesmo longe, continuaremos sendo irmãos. Os dias passam, meu embarque se aproxima e eu ainda continuo sem saber o que responder ao Tijmen...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Profissão: irmã mais velha



Em setembro de 2008, depois de ter trabalhado durante 1 ano na agência de Intercâmbio CI - Maringá, decidi que era hora de conhecer a Europa pelas minhas próprias experiências.

Queria sentir, aprender, provar, me permitir. Queria conhecer o tal do velho Continente pelas minhas próprias impressões e não ter um conceito formado, apenas pelo o que os outros me contavam. Assim, depois de algum tempo tentando decidir qual seria a "melhor" opção, decidi encarar o desafio de ser Au pair na Holanda durante 12 meses.

O interesse pelo programa surgiu após orientar várias meninas (apesar de haver países que meninos podem participar) e perceber que a grande maioria, ficava muito satisfeita com a experiência. Depois de receber tantos retornos positivos, alguns "muito obrigada" e ver que, com um baixo custo, era possível viajar tanto, comecei a me questionar se não era hora de abandonar a vida de "fada madrinha" e fazer com que meus próprios sonhos também se tornassem reais.

Basicamente, ser Au pair consiste em morar com uma família hospedeira, tomar conta das crianças enquanto os pais estão ausentes, vivenciar uma nova cultura, melhorar (e aprender) idiomas, conhecer novos lugares e pessoas. Tudo isso, recebendo em euro!

Me empolguei tanto com esta idéia, que em pouco tempo, me despedi de tudo o que me prendia no Brasil para dar as boas-vindas a um novo país, uma nova família, um outro idioma, uma diferente realidade.

Confesso que no começo, como já era previsível, não foi nada fácil. O fato de ter que gerenciar o cotidiano de 2 crianças, que nem sequer falavam algum dos idiomas que eu havia estudado (inglês, espanhol, francês ou italiano), me assustou MUITO! Não compreendia o porquê eles choravam e eles não me entendiam quando eu os corrigia. Mas, eu não poderia culpá-los, afinal, eu que tinha a obrigação de me adaptar, de entender as diferenças, de me inserir na cultura holandesa, incluindo assim, o aprendizado da língua.

Não foram necessários, porém, muitos dias para que eu comprovasse que com paciência, respeito e algumas mímicas, tudo ficava mais claro para ambos os lados. Eu continuava sem entender o que eles diziam, mas era impossível não entender o que significavam os abraços, os beijos, os sorrisos.

E aos poucos, eu aceitei não apenas o papel de au pair, mas também conquistei o "cargo" de irmã mais velha. E o que antes era minha obrigação, tornou-se a minha mais doce rotina...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O que me faz escrever este blog...

Não sei quantas almas tenho - Alberto Caeiro

"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : 'Fui eu ?'
Deus sabe, porque o escreveu."

Sempre gostei de Fernando Pessoa! Esta poesia, em especial, me ajuda a explicar o porquê da criação deste blog.

Tantas mudanças, descobertas, dúvidas, "verdades absolutas" que já não são mais as mesmas.

Mais do que, simplesmente, compartilhar com vocês um pouquinho das experiências que eu vivi (e estou vivendo) durante estes meses na Holanda, também quero ter arquivado, não apenas na memória, esta fase tão intensa da minha vida.

Sejam bem-vindos!