quarta-feira, 29 de julho de 2009

Por que não Holanda?

Localização da Holanda na Europa

Localização de Maastricht na Holanda

Quando informei meus amigos e familiares sobre minha viagem à Holanda, dentre tantas opiniões diferentes, tantos palpites (não que eu pedisse), apenas um questionamento foi unânime: Por que Holanda?

Já que é pra quebrar os rótulos, você sabia que, apesar de ser comumente conhecido, o nome correto nem é Holanda? Holanda do Norte e Holanda do Sul são na verdade duas, das 12 províncias, que constituem os Países Baixos (Netherlands). São nestas 2 que, praticamente, gira toda a economia. Mas, seria o mesmo que a gente chamasse todo o Brasil, por exemplo, de São Paulo ou Rio de Janeiro. Essa confusão de nomes que a grande maioria dos estrangeiros faz, irrita (e muito), principalmente, os holandeses (dutch) que não moram nestas províncias.

Além disso, apesar do idioma oficial ser o holandês, a maioria da população fala, pelo menos, inglês fluentemente. Segundo os dados do Consulado "73% dos holandeses falam uma língua estrangeira, 42% falam duas e 12% falam mais de duas. ". Assim, logo me animei com a possibilidade de poder treinar vários idiomas, morando em um só lugar.

No entanto, mais do que cuidar de crianças, ou aprimorar conhecimentos linguísticos, o que realmente me estimulou a ser Au pair nos Países Baixos, foi a possibilidade de quebrar tantas fronteiras, em tão pouco tempo.

Tenho que admitir que a localização estratégica da cidade em que eu vivo (Maastricht, ao sul do país, entre as fronteiras alemã e belga), o número de dias livres que minha família holandesa me forneceu , a variedade de companhias "low cost" (com baixo custo) que operam nas proximidades daqui e uma certa dosagem de cara de pau, fizeram com que eu cumprisse minha meta: Viajar, pelo menos, a 1 novo país por mês!

O salário de au pair estabelecido pelo governo Holandês é de 300 euros mensais. Apesar de não ser muito, eu não tenho nenhum gasto fixo. Hospedagem, refeições, seguro médico, um curso de língua estrangeira são, obrigatoriamente, pagos pela família hospedeira. Assim, antes mesmo de embarcar para a Europa, eu já havia me feito uma promessa: investiria todo meu dinheiro em viagens.

Mesmo economizando cada centavo pra poder viajar (sim, eu tenho que me controlar muito para não comprar roupas, eletrônicos ou livros), não deixei de ter uma vida social ativa: ainda saio todos os fins de semana! A vantagem é que as baladas são gratuitas, os holandeses são cavalheiros (e pagam bebidas às mulheres) e eu não preciso gastar com taxi ou gasolina, já que o transporte mais utilizado é a bicicleta.

E entre sacrifícios e planejamentos eu poderia contabilizar as minhas experiências, resumidamente, da seguinte forma: 16 países visitados, 2 certificados de idiomas, pernas mais tonificadas em razão da quantidade de vezes que eu fui obrigada a pedalar, amigos de diversas partes do mundo, alguns novos amores, inúmeras histórias inesquecíveis e muitos, mas muitos, sonhos realizados...

Que venham os próximos 2 meses, mais surpresas, sorrisos, momentos, pessoas, sensações, descobertas! Que venha principalmente, minha última (e tão esperada) viagem em terras européias...Última? Deste ano, claro!

sábado, 25 de julho de 2009

Ingênua(mente) infantil


Dentes de leite que caem, dentes permanentes que nascem, roxos nos joelhos que não param de aparecer. Bicicletas que já não mais precisam de rodinhas, livros que já começam a ser lidos, palavras que já são ditas e compreendidas em inglês. É, o ano realmente passa, os meus pequenos crescem e o meu tempo com eles diminui!

Cada um com seu jeitinho, com sua personalidade, com suas preferências e intolerâncias. Karlijn gosta de dançar, de se maquear, de aprender palavras em português, de se sentir "gente grande", de bater na porta do meu quarto, escondida dos pais, para me dar um último beijo de boa noite. Tijmen prefere brincar de lego, não gosta de frutas, adora quando eu o pego de cavalinho, quer saber o "por que" de tudo, mas ainda não percebeu que várias vezes, eu também não tenho a resposta. "Por que você precisa voltar pra casa, se aqui na Holanda você já está em casa?" Apenas uma, das inúmeras perguntas, que eu não soube responder.

Neguei vários doces, mandei voltarem pra cama, desliguei a televisão, tive que obrigá-los a tomar banho. Não falem com estranhos, olhem antes de atravessarem a rua, não bata na sua irmã, nao xingue seu irmão, não coloquem o gato no microondas!!!

Mais do que aprender a educar 2 crianças, eles me ajudaram, principalmente, a relembrar a beleza da inocência, da vida simples, de alegrar-se com as pequenas coisas. Como é gostoso tomar um banho de chuva, fazer cabaninha, pisar descalça na grama, brincar com bolha de sabão, montar quebra-cabeça, pega-pega, rir até a barriga doer. Tomar chocolate quente, plantar bananeira e virar estrelinha, fazer careta no espelho, ganhar um abraço depois de um pesadelo, sentir vontade de voltar pro Brasil, mas desistir da idéia quando ouvir um "eu te amo" em uma língua, até então, desconhecida.

Vai chegando a hora de me despedir e eu ainda não sei como dizer "adeus". Por mais racional que eu seja, ainda não consigo imaginar como serão os meus dias sem eles. Responsáveis pela minha alegria e pelo meu cansaço. Com eles testei minha paciência, meu equilíbrio, minha flexibilidade. Me tornei mais madura, mas ao mesmo tempo, resgatei meu lado infantil.

As lágrimas já caem, a saudade já vem, o coração já dói. A gente tem que fingir que é forte, prometer que tudo ficará bem e que mesmo longe, continuaremos sendo irmãos. Os dias passam, meu embarque se aproxima e eu ainda continuo sem saber o que responder ao Tijmen...

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Profissão: irmã mais velha



Em setembro de 2008, depois de ter trabalhado durante 1 ano na agência de Intercâmbio CI - Maringá, decidi que era hora de conhecer a Europa pelas minhas próprias experiências.

Queria sentir, aprender, provar, me permitir. Queria conhecer o tal do velho Continente pelas minhas próprias impressões e não ter um conceito formado, apenas pelo o que os outros me contavam. Assim, depois de algum tempo tentando decidir qual seria a "melhor" opção, decidi encarar o desafio de ser Au pair na Holanda durante 12 meses.

O interesse pelo programa surgiu após orientar várias meninas (apesar de haver países que meninos podem participar) e perceber que a grande maioria, ficava muito satisfeita com a experiência. Depois de receber tantos retornos positivos, alguns "muito obrigada" e ver que, com um baixo custo, era possível viajar tanto, comecei a me questionar se não era hora de abandonar a vida de "fada madrinha" e fazer com que meus próprios sonhos também se tornassem reais.

Basicamente, ser Au pair consiste em morar com uma família hospedeira, tomar conta das crianças enquanto os pais estão ausentes, vivenciar uma nova cultura, melhorar (e aprender) idiomas, conhecer novos lugares e pessoas. Tudo isso, recebendo em euro!

Me empolguei tanto com esta idéia, que em pouco tempo, me despedi de tudo o que me prendia no Brasil para dar as boas-vindas a um novo país, uma nova família, um outro idioma, uma diferente realidade.

Confesso que no começo, como já era previsível, não foi nada fácil. O fato de ter que gerenciar o cotidiano de 2 crianças, que nem sequer falavam algum dos idiomas que eu havia estudado (inglês, espanhol, francês ou italiano), me assustou MUITO! Não compreendia o porquê eles choravam e eles não me entendiam quando eu os corrigia. Mas, eu não poderia culpá-los, afinal, eu que tinha a obrigação de me adaptar, de entender as diferenças, de me inserir na cultura holandesa, incluindo assim, o aprendizado da língua.

Não foram necessários, porém, muitos dias para que eu comprovasse que com paciência, respeito e algumas mímicas, tudo ficava mais claro para ambos os lados. Eu continuava sem entender o que eles diziam, mas era impossível não entender o que significavam os abraços, os beijos, os sorrisos.

E aos poucos, eu aceitei não apenas o papel de au pair, mas também conquistei o "cargo" de irmã mais velha. E o que antes era minha obrigação, tornou-se a minha mais doce rotina...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O que me faz escrever este blog...

Não sei quantas almas tenho - Alberto Caeiro

"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : 'Fui eu ?'
Deus sabe, porque o escreveu."

Sempre gostei de Fernando Pessoa! Esta poesia, em especial, me ajuda a explicar o porquê da criação deste blog.

Tantas mudanças, descobertas, dúvidas, "verdades absolutas" que já não são mais as mesmas.

Mais do que, simplesmente, compartilhar com vocês um pouquinho das experiências que eu vivi (e estou vivendo) durante estes meses na Holanda, também quero ter arquivado, não apenas na memória, esta fase tão intensa da minha vida.

Sejam bem-vindos!