terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Nostalgia



Hoje faz exatos 3 meses que me despedi dos meus "holandezinhos". Como passou rápido! Sentada no ônibus, presa no caótico trânsito paulistano, comecei uma sessão nostalgia dos momentos que passei, ao longo de 12 meses, com a Karlijn e com o Tijmen.

Lembro nitidamente da voz, do cheiro, das manias, dos medos, das preferências, do jeitinho de cada um deles. Como foi possível eu me apegar tanto a 2 "pessoinhas" que até então, eu nem imaginava que pudessem existir?

Quanta coisa boa eu pude viver ao lado deles. E quantos perrengues eu passei por causa deles...

Lembro, por exemplo, da primeira vez que a Karlijn chorou. Era meu primeiro dia em terras holandesas e o primeiro instante que os pais haviam me deixado sozinha com as crianças. Fomos ao "playground" (parquinho) brincar. Próximo dali, havia uma fazenda com alguns animais. Meus mais novos irmãozinhos ficaram encantados com os mais diversos bichos e apontavam compulsivamente me mostrando cada um deles.

Karlijn correu junto à cerca, que a separava dos simpáticos animais, para poder acariciá-los. Só não contávamos (já que não havia nenhuma placa informativa) que a bendita cerca fosse elétrica.

Pronto! Foi tudo tão rápido! Em um segundo, lá estava ela caída no chão, chorando, gritando palavras holandesas que eu desconhecia, mas era óbvio deduzir que estavam relacionadas à dor. Peguei a menina no colo, fiz uma mímica para Tijmen me seguir (ele ainda não falava uma única palavra em inglês) e corremos para a casa.

Eu só queria acalmá-la e tentava não pensar o que os pais diriam, sobre meus primeiros 2 minutos como au pair. Como eu tive medo da reação deles!

Eu expliquei, receosamente, toda história à família. Neste dia, eu tive certeza de que meus pais holandeses realmente eram calmos e controlados. Eles não se zangaram comigo. Ainda bem! Apenas foram conversar com o dono da fazenda, para que ele sinalizasse a tal perigosa cerca...

Outro episódio tenso, foi quando Tijmen atropelou um carro com sua bicicletinha. O veículo estava parado no semáforo e Tijmen, estava pedalando enquanto olhava para os lados. Karlijn e eu gritamos, tentando alertá-lo. Porém quando olhamos novamente, o menino já estava no chão. Ficou apenas alguns segundos desacordado, mas foram suficientes pra quase me enlouquecer. Felizmente, mais uma vez nada de grave aconteceu...

Este mesmo menininho, de 5 anos de idade, acabou descobrindo "toda a verdade" sobre como veio ao mundo, mais cedo do que seus pais haviam planejado. Estávamos em casa, inocentemente, apenas ouvindo música. Dentre tantos artistas, tantas melodias, tantas letras, ele foi notar, justamente, a palavra "sex" (sexo em inglês), da música "Sexy back" (do Justin Timberlake).

Ficou gritando o dia todo, compulsivamente "sex, sex, sex, sex". Achei que logo ele esqueceria. Como eu fui ingênua! Bastou a mãe chegar para que ele lançasse um "Mãe, o que é sexo?". Minha host apenas perguntou "Aonde você aprendeu isso, Tijmen?", e ele alegremente respondeu "Com a Bianca". Mais uma vez, lá estava eu me explicando à minha família holandesa...

Como estes 2 me fazem falta...

E hoje, 3 meses depois, em outro continente e longe dos meus pequenos, fiquei relembrando todos estes fatos, rindo sozinha dos momentos cômicos, revivendo as situações tensas, confesso, que até mesmo derrubei algumas lágrimas ao pensar neles.

E das brincadeiras diárias, gargalhadas descontroladas, surpresas intermináveis, inúmeros sustos e imprevistos, me restaram somente as fotos, os vídeos e as lembranças...

Um comentário:

  1. oi bianca, adorei o texto pois lembrar é facil pra quem tem memória agora esquecer é impossivel pra quem tem coração. beijos

    maria luisa limonge

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