terça-feira, 1 de setembro de 2009

Nem toda brasileira é (vaga)bunda...

No dia 12 de setembro de 2008, devido uma conexão da Alitalia, desembarquei no aeroporto Malpensa, em Milão. Estava destinada a passar 4 horas por ali, antes de pegar um vôo a Dusseldorf, onde minha família holandesa me buscaria. Fazia 30ºC quando eu saí de São Paulo e fui recepcionada por um verão europeu de 15ºC. Eu tentava resistir ao frio e ao nervosismo que teimavam em aparecer.

Não estava fazendo nada errado, mas a idéia do meu destino depender da boa vontade de um indivíduo, que não tinha a menor noção do quanto eu havia almejado estar ali, me perturbava. Eu já esperava ser interrogada, mostrar documentos, explicar o porquê eu queria morar um ano na Europa, tentar convencê-los de que eu não ficaria ilegal no continente e todo aquele blá,blá,blá. Eu tinha em mãos visto, carta da família, seguro médico, os euros requisitados e passagem de volta ao Brasil, mas mesmo assim, viajar com passaporte brasileiro sempre causa uma certa insegurança.

Depois de algum tempo na fila, enfim, havia chegado a minha vez. O oficial italiano pediu meu passaporte e viu que eu vinha do Brasil. Pronto! Bastou saber que eu era brasileira para o comportamento mudar. Checou visto, toda a documentação, fez milhares de perguntas e então me mandou tirar o casaco(?). E ali na fila, ele deu um sorrisinho malicioso, colocou a mão por dentro da minha blusa e acariciou a minha cintura. Só então, falou que eu podia ir. Eu gelei, mas desta vez não era por causa do frio.

Não tinha chorado quando me despedi dos meus pais, do meu irmão, dos meus amigos. Não havia chorado, mesmo vendo minha mãe chorar no aeroporto de Guarulhos. Mas ali em Milão, depois de ter "passado" pela imigração, eu chorei!

Fiquei com raiva, tive nojo, me senti humilhada e não tinha a quem recorrer.

Durante estes meses na Europa, o episódio com o oficial não foi o único e nem o último. E conversando com outras brasileiras, vejo que o "assédio" não foi só comigo. Independente do biotipo, quando você fala que é do Brasil, a reação masculina é sempre a mesma "Hummmm, Brazil? Really?", seguido de um olhar mal intencionado.

A pior parte é saber que este rótulo não foi criado ocasionalmente. O grande número de prostitutas brasileiras no velho continente e o tal carnaval com suas mulheres nuas, apenas reforçam este conceito aos estrangeiros.

É claro que existe gente legal e babaca em qualquer lugar. É lógico que encontrei muitos "gentlemen" mundo afora. E é óbvio também que toda mulher gosta de se sentir bonita e desejada, portanto confesso que, DEPENDENDO do gringo, até falei que era brasileira, com aquela intençãozinha de provocar. Mas mesmo assim, nem toda brasileira é "(vaga)bunda", poxa! Ou pelo menos, não sempre e muito menos, com qualquer um.

A mulher brasileira parece não ter nome, rosto ou personalidade. Para a maioria dos gringos, ela apenas tem um corpo bonito e sabe sambar. Portanto, meu amigo, se um dia alguém te perguntar sobre as tais mulheres brasileiras, experiemente apresentá-lo à Tarsila do Amaral, Cecília Meireles, Lya Luft, Elis Regina ou Fernanda Montenegro. Quem sabe assim a gente não consegue, finalmente, acabar com este estigma!

5 comentários:

  1. Hey! sou amigo do JV, parabéns pelos textos, pela criatividade, pelo Blog em geral, parabéns em especial por esse texto contando sua experiência horrível e por cobrar dos brasileiros que eles mostrem as culturas interessantes do país, não só samba, futebol e mulher bonit. Novamente parabéns e boa caminhada aí pelos Países Baixos! (aprendi)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Tapa na cara gigantesco de todo mundo... já diria uma música "Brasil, mostra a tua cara ♫" ... enfim, pra bom entendedor, basta!

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  4. Bia,
    Lindo esse post...

    um beijo!
    =] Karen

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  5. Parabéns, querida, por ser esta mulher forte e enfrentar de cabeça erguida a mediocridade racista. Bjos e sempre avante!!!!!!!!!!
    Rosangela Gardim

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